quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Neil Gaiman

[...]

Ler uma obra dele seria o seguinte: imagine que exista a cadeira e a porta. Contudo, a porta está aberta; só que a diferença é que não há nada lá. Ao menos, não ainda.

Você então senta e Gaiman lhe pede que tome um chá preparado com ervas desconhecidas.

Ele se senta ao seu lado, espera fazer efeito e é extremamente educado com você o tempo inteiro. As tais ervas utilizadas no chá não serão exatamente originais; aliás, se você pedir ele irá lhe contar todas as vezes e todas as diferente receitas com que ela foi utilizada ao longo da história da humanidade, e aos poucos você perceberá que, ainda assim, ele parece ter dado um toque próprio ao tempero, melhorando, ou ao menos atualizando, a receita original.

E então o chá começa a fazer efeito. E a í, meu amigo, a coisa começa pra valer.

Porque de repente a cadeira não vai mais parecer estar no chão; de repente o chão, que era de concreto, se torna vidro; de repente as suas mãos irão parecer distorcidas ou pequenas demais; de repente o seu pensamento começará a se tornar as imagens de um filme saídas de um projetor do meio da testa; de repente tudo poderá acontecer e, mais do que isso, poderá acontecer de duas pessoas visualizarem as mesmas partes de uma mesma experiência de maneiras e visões completamente diferentes.

E então o monstro que deveria estar naquela porta até pode ser que apareça. Mas é aquilo; se você tomou o chá que Gaiman lhe ofereceu, esse monstro nunca será bem definido.

Pode ser que você o odeie, é verdade; mas pode ser que você se identifique com ele; pode ser que você o compreenda; que dê razão ou sinta pena; que não compreenda nem mesmo porque é aquele o monstro, e não os outros personagens da história.

A complexidade por detrás das motivações (na maioria das vezes trágica, que são mesmo as melhores) daquele monstro podem fazer, inclusive, você se compreender melhor como ser humano. E terminar a história se perguntando se existia mesmo um monstro ali, ou se tudo fora fruto da sua visão alterada na ocasião.

E quando o efeito do chá passar, Gaiman ainda vai estar ali com seu jeito extremamente educado, perguntando se você está bem e pedindo, por favor, para que, quando melhorar, você lhe envie uma mensagem por e-mail, blog, twitter ou a próxima tecnologia que substitua tudo isso.

[...]

Vi aqui ó

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