Ela vagava na noite fria sem rumo. Apenas andava vendo as luzes da cidade que iluminava o caminho não sabendo para onde iria. Só queria se afastar de lá, ir para o mais longe possível de todos e tudo. Carregava apenas um casaco, algumas roupas e alimentos dentro de uma mochila jeans antiga e sua alma quebrada. A noite a encobria como uma coruja às suas crias. Se sentia abraçada e acolhida por ela. Mas mesmo esse sentimento não durou por muito, todas as vezes que se lembrava da noite que passou, seu rosto era regado por lágrimas salgadas que saiam direto de seu coração.
Começou a ouvir trovões ao longe, uma tempestade se aproximava, mas não se importava com ela, preferia assim, talvez a chuva lavaria o sangue que carregava em suas mãos e alma. Nessa caminhada viu coisas que nunca havia reparado antes na cidade, tudo escancarado, para todos aqueles que tiveram seu coração despedaçado no passado. Ela começou a se perguntar o por que de nunca ter visto toda a dor que o rosto das pessoas demonstravam. A chuva nunca caiu.
Passou em frente a um clube, que estava tocando uma das musicas que mais gostava, acabou entrando para tentar esquecer aquela maldita noite sem fim. Foi direto para o banheiro, lavou as mãos, o rosto, e entrou na pista de dança, focando apenas nas notas que compunham aquela musica. Dançou até esgotar-se. Foi até o bar e pediu uma bebida. Um rapaz que nunca tinha visto na vida se ofereceu para pagar, ela aceita na hora, pensando no pouco dinheiro que carregava. Depois dessa, veio outra, e mais outra, e mais outra... A conversa com o rapaz era superficial, mas ao menos ela estava comendo e bebendo de graça. Ele perguntou se ela gostaria de ir para a sua casa, ela disse que não via problema algum, precisava mesmo de um lugar para passar a noite.
Ela se dirigiu para o carro dele, e lá mesmo, no estacionamento do clube, ele começou a beijá-la e acariciá-la. Ela percebeu que precisaria de mais algumas bebidas para conseguir ao menos fingir que estava bom. Ele topa a ideia, compram bebida e ele começa a dirigir para seu apartamento, que fica um pouco longe do centro da cidade.
Bêbada, sobe as escadas do prédio dele quase caindo. Ele mal a espera a porta se fechar atrás deles, já começa a tirar a roupa dela e beija-la, acaricia-la, penetrá-la. Ele logo goza e dorme, o que ela acha ótimo, finalmente poderá dormir. Acorda mais cedo que ele, toma um banho, prepara um café, pega o dinheiro que ele carregava na carteira e sai daquele apartamento para nunca mais voltar.
Volta a caminhar pela cidade, agora iluminada pelos raios de sol e sorrisos das crianças que iam em rumo ao parque. Encontra um jornal abandonado num banco e lê a reportagem de capa: "Casal assassinado a facadas, suspeita-se da filha, agora desaparecida". Ela deixa o jornal onde estava e continua a andar pela cidade.
Chegou à praia, contemplou a imensidão azul que se fundia com o céu, deu um mergulho, saiu do mar e ficou observando o céu por entre as folhas de um coqueiro. Nesse momento decidiu o que fazer.
Caminhou rápido para a estação de metro, comprou o ticket, quando avistou as luzes se aproximando respirou fundo, e pulou. Nunca chegou a ver a reportagem de capa do jornal do dia seguinte:
"Adolescente encontra morte trágica ao cair nos trilhos do metro."
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A autoria é da Ysa. Ela me pediu pra postar aqui, no lugar dela. ;)
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